sobre|posto, o método

Esse texto foi publicado originalmente no Medium, em 01 fevereiro 2019. Refere-se ao projeto sobre|posto.


Em 2012, dei um salto. Depois de anos de ausência, decidi voltar às minhas raízes de artista. Minha maneira de fazer isso, considerando minha vertente acadêmica, foi inscrever-me em um curso de especialização. Em fotografia, minha primeira paixão. Daí surge sobre|posto.

Mas na verdade, o germe da ideia havia surgido anos antes, ainda na minha primeira graduação em Artes Visuais (depois cursei Design de Produto, mas essa é outra história). A ideia começou a ser germinada nos idos de 2003, quando comecei a brincar com fotos minhas, analógicas digitalizadas, no Photoshop, usando o modo de camada sobreposição. Cheguei a explorar a ideia na faculdade, mas na época não soube continuar.

Essa escolha foi fruto de casualidade, em função dos resultados que encontrei durante o processo. Me interessou a qualidade pictográfica, consequência do efeito de transparências pela sobreposição de camadas. Também as cores resultantes, que pareciam-se com efeitos de filmes analógicos Kodak dos anos 70, aquele tom quente e saturado dos filmes de faroeste, que consegui uma vez, por acidente, com uma câmera Kodak descartável no calor nauseante de Toledo.


© Bibiana Silveira 2013 – Imagem protegida pela lei do direito autoral (9.610)

Então estamos em 2012–2013, estou cursando a especialização, e pensando o que fazer para meu projeto de conclusão de curso. Sei que quero explorar a poética visual da fotografia, mas não sei como.

Se tu não lembra, essa foi a época da dupla exposição tomar conta do mundo da imagem. Em todos lugares, o recurso estava sendo explorado, usado e abusado.

Veio então o momento EUREKA! Lembrei daqueles meus estudos, construí um discurso teórico, e me toquei a experimentar, explorar visualmente o conceito de sobreposição. Usei minha câmera digital e o bom e velho Photoshop, e testei, testei, testei.


© Bibiana Silveira 2013 – Imagem protegida pela lei do direito autoral (9.610)

Peguei fotos minhas já prontas, fiz outras (já com intencionalidade), e cheguei a 12 imagens, estruturadas em quatro categorias de sobreposição. Essas categorias, as quais chamei de métodos, foram

Método 1 — encontradas
Procuro situações onde se apresentam sobreposições, sem intervenção externa. O método vem da fotografia de rua, sendo um registro do fenômeno encontrado.

Método 2 — lado a lado
Coloco dois elementos lado a lado, com o intuito de que sejam comparados e que suas semelhanças e diferenças sejam acentuadas.

Método 3 — camadas
Empilho duas imagens em um arquivo único, utilizando transparências para que a sobreposição fique aparente. Posso fazer intervenções posteriores ou não. Estas podem ser alteração de escala, de opacidade, de cor, enfim, quaisquer alterações que julgue necessárias. O processo é intuitivo. É a sobreposição mais usual e reconhecível.

Método 4 — reflexos
Neste método fotografo tendo uma superfície reflexiva no quadro. O reflexo aparente cria uma superposição de planos que normalmente não seriam percebidos. Foi o menos explorado dos métodos, por ser o de mais difícil execução.


Reflexos 01 (2013)

Por ser um trabalho acadêmico, a reflexão teórica é central no processo. Não vou entrar nesse tema agora, até porque o trabalho está publicado e disponível online. A quem interesse, segue o resumo do trabalho:

O presente texto explora o conceito de sobreposição no que compete à linguagem fotográfica, mostrando os resultados de uma reflexão poética sobre o assunto. Em breve apanhado sobre a história da fotografia, enfatizamos os principais momentos em sua história. Definimos também o conceito de sobreposição no que diz respeito à arte contemporânea. Como conceito, a sobreposição pode ser vista em diversas obras, portanto este se mostra um assunto bastante adequado para discutirmos sobre o momento atual na história e o impacto humano sobre o espaço. No que refere à reflexão poética, apresentamos a produção realizada, tendo o cuidado de fundamentar teoricamente tal tentativa. A proposta da pesquisa é explorar a sobreposição na fotografia. Fazemos uma contextualização histórico-teórica, com o intuito de elucidar o leitor sobre o assunto e seu momento histórico. Seguimos a metodologia proposta por Munari para o design de produtos, adequada à produção artística. Acima de tudo, trata-se de uma investigação poética tendo como norte o conceito de sobreposição, e como objetivo a exploração da linguagem fotográfica e suas possibilidades pictóricas. Principalmente, trata-se de uma exploração das possibilidades colocadas pelo fenômeno da sobreposição, as diferentes maneiras pelas quais essa pode ser realizada, e suas possibilidades poéticas. [fonte]


Camadas 01 (2013)

Esse trabalho foi encerrado em 2013. A vida seguiu, fiz mestrado, entrei no doutorado, e a fotografia foi ficando cada vez mais de lado. Mas a inquietação artística nunca falhou.

Agora, quase 6 anos depois, e graças a muito incentivo dos amigos e a um cérebro exausto pelo doutorado, resolvo voltar às sobreposições que nunca me abandonaram. Não como compromisso, mas quase como escape. Como maneira de centrar-me, quando as demandas levam à beira da loucura.

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